Nos últimos dias, o governo de Minas convocou os mineiros a economizarem água. Para enfrentar a maior crise hídrica da história do Estado, as autoridades estimam que será necessária uma economia de ao menos 30% ao longo dos próximos meses. No Sul de Minas, 11 cidades decretaram estado de alerta ou já adotam medidas de racionamento de água. Embora não esteja entre os municípios com risco iminente de falta d’água, órgãos públicos e setores organizados da sociedade civil de Pouso Alegre estão mobilizados em torno de medidas que aumentem a segurança hídrica do município.
A Câmara Municipal participa da mobilização desde o segundo semestre de 2014, quando a Comissão de Ordem Social transformou o debate em tema de audiência pública e ações conjuntas com órgãos públicos e setores da sociedade civil organizada. Atualmente, os trabalhos são desenvolvidos em parceria com órgãos da Prefeitura, Copasa, Polícia Militar do Meio Ambiente, Emater, Acipa e agentes da iniciativa privada. O grupo se reúne uma vez por semana para discutir medidas para recuperação dos mananciais degradados, formas de mitigar o desperdício e reforçar a segurança hídrica do município.
“Desde o ano passado, algumas comunidades rurais já enfrentam dificuldades de abastecimento. É uma realidade nova para uma população que está acostumada a ter água em abundância”, observa o presidente da Comissão de Ordem Social, Mário de Pinho. O vereador relaciona dois questionamentos que aguardam respostas urgentes do poder público e da sociedade: “Como podemos economizar água e como preservar o que temos?”, propõe.
Como relata o vereador, das discussões do grupo resultaram ações concretas, como o plantio de mudas para reflorestamento de trechos das margens do Rio Mandu e a colocação de cercas, também no entorno do rio, para evitar o depósito de resíduos nas proximidades de seu leito. “Agora formamos uma comissão para remeter à Agência Nacional das Águas e ao Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) uma carta, consultando sobre quais medidas esses órgãos nos aconselham a adotar mediante o atual quadro hídrico do município”, relata o vereador.
Necessidade de mobilização
Para especialistas e atores envolvidos nos debates em torno da crise hídrica não há receita pronta ou fórmula mágica. Enfrentar a escassez crescente do líquido mais precioso para a vida requer uma ampla mobilização social, onde órgãos públicos, iniciativa privada e sociedade assuma cada qual a sua responsabilidade.
Relator da Comissão de Ordem Social, o vereador Wilson Tadeu Lopes lembra que em 2014 o trabalho desempenhado pelo grupo foi voltado para ações de recuperação e conservação dos recursos hídricos. Para ele, o grande desafio para alcançar ganhos em escalas maiores é mobilizar a população em torno de objetivos comuns. “A água é um bem que não tem preço e se cada um de nós não utilizá-la com consciência, poderemos enfrentar dificuldade de abastecimento neste e nos próximos anos”, considera.
Militante experimentado das causas ambientais, o vereador Maurício Tutty acredita que ainda está em tempo de a sociedade fazer uma reflexão profunda acerca da urgência da preservação dos recursos hídricos. “É um debate que toda sociedade precisa fazer. Ainda está em tempo. Não espere acabar a água na sua torneira para se preocupar”, atenta.
Ex-secretário de Meio Ambiente do município, Maurício é autor do Programa Municipal de Conservação das Águas. Aprovado pela Câmara em dezembro de 2014 e sancionado pelo Executivo na sequência, a lei regulamenta o uso racional e reaproveitamento das águas, as medidas necessárias para conservação e redução do desperdício, além da utilização de fontes alternativas para a captação.
Para o presidente da Câmara, o vereador Rafael Huhn, toda vez que a Câmara se posiciona de maneira tão propositiva em relação a grandes temas, especialmente aqueles mais urgentes, há uma grande chance de se chegar a soluções legítimas, sustentadas no debate técnico e político de qualidade. “A mobilização e o debate promovidos pela comissão da Câmara e vereadores em torno da crise hídrica é um exemplo de como o parlamento pode ser protagonista de grandes transformações sociais”, considera Huhn.